Neste espaço forneceremos dicas de como identificar notícias falsas, desde uma simples imagem até o áudio que você recebe no seu “grupo de whats”.
Dicas da IFLA:
Como checar se uma notícia é falsa
Você abre seu celular e recebe uma notícia encaminhada por um amigo ou parente. Ela confirma completamente suas convicções ou então causa muita surpresa ou repulsa? Segundo especialistas, este apelo às emoções mais imediatas é uma das características principais do conteúdo falso. A disseminação de notícias falsas com o objetivo de manipular a opinião pública principalmente em tempos de pandemia e caos político.
Dá um pouco de trabalho checar a veracidade de um conteúdo, mas vale a pena incorporar alguns desses passos a seu dia a dia para que você não se transforme, inadvertidamente, em um vetor de notícias falsas.
Quando receber uma notícia, tome algumas precauções e reflita:
1) Pare e pense. Não acredite na notícia ou compartilhe o texto de imediato.
2) Ela lhe causou uma reação emocional muito grande? Desconfie. Notícias inventadas são feitas para causar, em alguns casos, grande surpresa ou repulsa.
3) A notícia simplesmente confirma alguma convicção sua? Também é uma técnica da notícia inventada. Não quer dizer que seja verdadeira. Desenvolva o hábito de desconfiar e pesquisar.
4) A notícia está pedindo para você acreditar nela ou, por outro lado, ela está mostrando por que acreditar? Quando a notícia é verdadeira, é mais provável que ela cite fontes ou dê links ou cite documentos oficiais e seja transparente quanto a seu processo de apuração.
5) Produzir uma reportagem assim que eventos acontecem toma tempo e exige profissionais qualificados. Desconfie de notícias bombásticas no calor do momento.
O que fazer na prática:
1) Leia a notícia inteira, não apenas o título;
2) Averigue a fonte:
a. É uma corrente de WhatsApp ou de outra rede sem autoria alguma ou link para um site? Desconfie e, de preferência, não compartilhe;
b. Tem autoria? É uma fonte legítima, na qual você já confiou no passado? Se não, talvez seja melhor não confiar. Pesquise o nome do veículo, autor ou da autora no Google e veja o que mais essa pessoa está produzindo e para qual veículo de imprensa. Além disso, preste atenção para averiguar se o site que reproduz a notícia está publicando só notícias de um lado político, por exemplo, mostrando que talvez haja algum viés ideológico;
c. Há no texto referência a um veículo de imprensa, como se fosse o autor da notícia? Entre no site original do veículo de imprensa para verificar se a notícia está lá de fato;
3) Digite o título da notícia recebida no Google. Se for verdadeira, é provável que outros veículos de imprensa confiáveis estejam reproduzindo a mesma notícia; se for falsa, pode ser que veículos de checagem já tenham averiguado o boato. Pesquise nos resultados da busca;
4) Pesquise, também, os fatos citados dentro da notícia. Ela se apoia em acontecimentos verificáveis? Por exemplo, se ela afirma que alguma autoridade disse algo, há outros veículos de imprensa reproduzindo o que essa autoridade falou? Tente procurar isso na internet;
5) Verifique o contexto, como a data de publicação. Tirar a notícia verdadeira de contexto, divulgando-a em uma data diferente, por exemplo, é um tipo de desinformação;
6) Pergunte para a pessoa que encaminhou a notícia para você de quem ela recebeu, se confia na pessoa e se conseguiu checar alguma informação;
7) Recebeu uma imagem que conta uma história? É possível fazer uma busca “reversa”, por meio da imagem, e não por texto, e verificar em que outros sites ela foi reproduzida, o que pode dar pistas de sua veracidade. Salve a foto no seu computador e suba ela no seu mecanismo de busca ou cole o url dela nesse navegador:
Se estiver no celular, tente neste site independente do Google:
8) Recebeu um áudio ou um vídeo com informações? Tente resumir essas informações e procurá-las no Google. Exemplo: você recebe um áudio dizendo que no dia seguinte haverá greve de ônibus. Procure no Google: “greve de ônibus” junto com a data. Outra opção é buscar no Google: “áudio greve de ônibus WhatsApp”, por exemplo. Essa busca pode resultar em um desmentido de uma agência de checagens de notícia, se ela não for verdadeira, ou em uma notícia real de algum órgão de imprensa, se for verdadeira;
9) Números: a notícia cita números de pesquisas ou de outros dados? Tente procurá-los isoladamente para checar se fazem sentido.
O que são ‘fake news’ ou notícias falsas e por que isso deve te interessar?
Notícias falsas são um termo para designar notícias fabricadas, comprovadamente falsas – normalmente feitas para prejudicar outras pessoas e muitas vezes com objetivos políticos ou que procurem o lucro. E elas sempre existiram, diz Sam Wineburg, professor de História da Universidade de Stanford nos Estados Unidos, mas, “no passado, dependiam de jornais ou papéis que circulavam de mão em mão”.
O que mudou? “Hoje, uma notícia falsa pode viralizar em um instante – as redes sociais permitem um alcance enorme. Além disso, hoje, há mais produtores de informação”, afirma ele. Ou seja, o alcance e a difusão de notícias falsas aumentaram.
O fenômeno começou a ser observado mais de perto – estudado por pesquisadores e reportado pela mídia – com a profusão de notícias falsas nas redes sociais durante as eleições americanas em 2016, quando Donald Trump foi eleito para a presidência do país. Também foi quando o termo “fake news”, cuja tradução por aqui é “notícias falsas”, começou a ser usado.
Há pesquisas que apontam que as notícias falsas que circularam nas redes sociais durante o pleito americano podem ter influenciado seu resultado.
Há outros fatores que contribuem para a profusão das notícias falsas atualmente e para a conversa em torno desse tema: a alta polarização política – destaque nesse estudo recente sobre o assunto -, a forma como as redes sociais funcionam e a fácil receita de sites com anúncios online são alguns exemplos.
O próprio uso do termo “fake news” é polêmico. Depois que foi eleito, Trump começou a usar a expressão para atacar parte da imprensa americana, usando a expressão para se referir à cobertura de sua gestão, ressignificando-a.
Especialistas preferem falar em “desinformação” ou, em português, “notícias falsas” mesmo. “O termo se politizou. Não ajuda mais”, diz Peter Adams, vice-presidente da área de educação da News Literacy, instituição que promove aulas sobre o assunto. “É melhor falar em vários tipos de desinformação. Alguns exemplos são: uma sátira que não é interpretada como tal, conteúdo deliberadamente manipulado e notícias disseminadas fora de contexto.”
E por que você deve se importar com isso tudo? “Porque a verdade é justamente a base da democracia. A qualidade da informação está diretamente ligada à democracia”, diz Wineburg. Tudo bem discordar, mas que seja de fatos verdadeiros, não inventados. Principalmente agora, com as eleições brasileiras em outubro deste ano.
Mas muita gente cai nessa?
Sim. Um dos estudos mais importantes sobre o assunto, publicado em março por pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology), mostrou que as notícias falsas se disseminam mais rapidamente e com maior alcance que notícias verdadeiras – isso porque as pessoas as espalham mais. Segundo o trabalho, notícias falsas são 70% mais prováveis de serem retuitadas (o estudo foi conduzido no Twitter) do que notícias verdadeiras.
Há várias teorias para explicar porque isso acontece: a hipótese dos pesquisadores do MIT, segundo disseram ao site da universidade, é que as pessoas gostam de compartilhar novidades para mostrar que estão “por dentro”.
Também pode ser relacionado às emoções das pessoas – eles observaram que notícias falsas causam mais surpresa e repulsa, enquanto as verdadeiras causam mais ansiedade e tristeza. Quanto maior a surpresa com uma notícia, portanto, maior a vontade de compartilhá-la. E as pessoas, segundo o estudo, se surpreendem mais com as notícias inventadas (por isso faz todo sentido observar suas emoções ao ler uma notícia e desconfiar se ela for muito exaltada, como indicado no guia acima).
“Se algo te faz ficar muito bravo ou feliz, pare um pouco e pense antes de compartilhar a notícia. É como dizer: ‘Se algo é muito bom para ser verdade, provavelmente não é”, diz Melissa Zimdars, professora de mídia da faculdade de Merrimack, nos EUA, que pesquisa sobre desinformação. Além disso, qualquer um pode cair nessa. Enquanto alguns pesquisadores apontam que pessoas mais velhas estão ligadas à difusão de notícias falsas, outros dizem que pessoas mais jovens tampouco estão ilesas.
Esse estudo mostra que pessoas mais velhas seguem no Facebook “páginas engajadas, que lideram a polarização do debate político”, enquanto os jovens se atêm às páginas da imprensa tradicional, “que costumam adotar um tom mais neutro nas reportagens”.
Um estudo de pesquisadores de Stanford, que teve participação do professor Wineburg, mostrou como estudantes têm dificuldade de distinguir anúncios de notícias e de identificar de onde vieram informações.
“O argumento de que são ‘nativos digitais’ não cola”, diz Wineburg. “Jovens podem, sim, ser nativos digitais e ainda assim cair nos truques. As pessoas confundem a habilidade dos jovens em operar tecnologia com a sofisticação necessária para entendê-la.”
Ele faz um paralelo: é como ser fluente em uma língua, como somos quando crianças, e não saber sua gramática – que só aprendemos depois, na escola.
O que se sabe sobre notícias falsas no Brasil?
Esse guia tem razão de ser: há muitas notícias falsas circulando no Brasil.
Há pessoas e empresas que ganham dinheiro produzindo e sustentando sites e páginas de notícias falsas no Brasil. Em 2017, uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou como funcionava um desses sites. Reportagens recentes do programa Profissão Repórter e do portal G1, ambos da Globo, mostraram como funcionam outras páginas.
O próprio Facebook removeu 196 páginas e 87 perfis no Brasil, em julho, após uma “rigorosa investigação”.
As páginas e perfis removidos fariam “parte de uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo, com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”, afirmou em comunicado.
Várias das páginas afetadas eram relacionadas ao MBL (Movimento Brasil Livre) – grupo de direita que teve participação significativa nas manifestações pelo impeachment da então presidente Dilma Roussef (PT), em 2016. Mais recentemente, o Facebook derrubou uma rede brasileira que vendia curtidas e seguidores após uma investigação com um think tank americano chamado Digital Forensic Research Lab, do Atlantic Council.
Há, por fim, perfis falsos nas redes sociais – o Facebook anunciou, por exemplo, ter encerrado 583 milhões de contas nos três primeiros meses de 2018. Pesquisadores das universidades do Sul da Califórnia e de Indiana estimam que haja entre 9% a 15% de robôs no Twitter.
Uma reportagem da BBC Brasil de 2019 mostrou que existia no Brasil pelo menos uma empresa que supostamente criava e vendia perfis falsos em redes sociais para políticos e empresas.
Os perfis eram controlados por pessoas de verdade, sentadas atrás de computadores em diversas partes do Brasil, inventando rotinas e mensagens para seus “personagens” para fazê-los parecerem mais reais. Eles não compartilhavam necessariamente notícias falsas, mas criavam uma falsa sensação de apoio a políticos.
Mas veículos de notícias e agências de checagem no Brasil têm tentado combater notícias falsas – até unindo esforços -, assim como pesquisadores têm acompanhado o fenômeno e desenvolvido ferramentas para tentar combatê-lo.
Qual é o papel do Estado e o das empresas de tecnologia nisso tudo?
No Brasil, o ministro Luiz Fux, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do CNJ (conselho Nacional de Justiça), já disse que as notícias falsas podem colocar em risco o processo democrático durante as eleições, e que a Justiça irá remover notícias falsas que forem abusivas. Não há mais detalhes de como isso se dará. Um grupo de trabalho foi criado para estudar o tema na corte.
Alguns países no mundo introduziram legislação contra notícias falsas – o que alguns especialistas apontam como potencialmente perigoso. A Alemanha é um exemplo, com uma lei que entrou em vigor neste ano exigindo que redes sociais removam discurso de ódio e notícias falsas de suas plataformas em até 24 horas, sob pena de multa.
Outros países, como os Estados Unidos, cobram regulação de empresas como Facebook e Twitter. Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, foi chamado ao Congresso em abril deste ano para responder a questões sobre anúncios e perfis e notícias falsos circulando na rede durante as eleições americanas.
Depois que de ter páginas “amigas” removidas, o MBL acusou o Facebook de “censura” e falou-se na Câmara dos Deputados em criar uma “CPI do Facebook”. Também há um grande número de correntes falsas circulando pelo WhatsApp, no Brasil e em outros países.
Alguns exemplos locais são as notícias falsas que circularam após o assassinato da vereadora Marielle Franco e durante a greve dos caminhoneiros, entre tantas outras agora durante a pandemia.
A natureza fechada da rede – de mensagens privadas – dificulta o rastreamento dessas notícias falsas. Há pesquisadores que apontam outro problema na difusão de notícias falsas do Brasil: o fato de que muita gente só tem acesso à internet por meio de aplicativos como WhatsApp e o Facebook e, portanto, acesso a informação por meio dessas redes.
Fonte: NewsLitTip, CNJ (Conselho Nacional de Justiça), BBC, Factcheck.org
FakeCheck – Detector de Notícias Falsas
Como funciona?
Ao receber um texto, o sistema aplica métodos para extrair atributos linguísticos desse texto e os utiliza em um modelo de aprendizado de máquina, que classifica a notícia como verdadeira ou falsa. O texto deve ter pelo menos 100 palavras, pois o sistema foi “treinado” dessa forma. Os modelos disponibilizados foram treinados com o córpus Fake.Br.
Estão disponíveis dois modelos de detecção: “Palavras do Texto” e “Classes Gramaticais”. O modelo de Palavras do Texto utiliza uma representação Bag of Words do texto, onde a presença ou ausência de uma palavra é marcada como 0 ou 1 em um vetor com 10395 posições (relativas às palavras mais importantes do córpus). O modelo de classes gramaticais calcula a porcentagem de palavras pertencentes à cada classe gramatical, de acordo com o tagger nlpnet.
Os atributos extraídos do texto são aplicados em um classificador Support Vector Machine, que infere automaticamente a classe da notícia (verdadeira ou falsa). Nos testes realizados, em um ambiente de teste controlado, o sistema obteve cerca de 89% de acerto (acurácia geral). Porém, sendo esse sistema apenas uma prova de conceito, não é recomendado o uso do FakeCheck como única fonte de verificação de notícias. O sistema é apenas um apoio para o usuário. Sempre busque fontes confiáveis para todas as notícias que você ler/compartilhar na web!
O projeto
Este site é uma demonstração dos resultados obtidos no projeto “Detecção Automática de Notícias Falsas para o Português”, financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do CNPq e também pela CAPES. O projeto visa estudar métodos para a detecção automática de notícias falsas utilizando Processamento de Linguagem Natural (PLN) e Aprendizado de Máquina (AM).
Um artigo sobre o projeto foi publicado na 13th edition of the International Conference on the Computational Processing of Portuguese (PROPOR 2018) e está disponível neste link.
O relatório completo do projeto de iniciação científica está disponível neste link.
Os Autores
Rafael Augusto Monteiro: Aluno de graduação do curso de Bacharelado em Ciências de Computação no ICMC-USP e autor principal do projeto.
Contato em rafaelmonteiro95 (at) gmail (dot) com.
Roney Lira de Sales Santos: Aluno do programa de doutorado em Ciência da Computação do ICMC-USP e colaborador do projeto.
Thiago Alexandre Salgueiro Pardo: Professor e pesquisador no ICMC-USP e orientador do projeto.
Financiamento e Apoio
Este projeto foi desenvolvido no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), no campus São Carlos, com colaboração de outros pesquisadores da própria USP e da Universidade Federal de São Carlos. O projeto foi financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do CNPq e pela CAPES, sendo desenvolvido no Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional (NILC).
Fake News e o fenômeno da pós-verdade no Facebook
Nesta cartilha você encontra mecanismos que auxiliam os cidadãos a identificar fake news
publicadas no Facebook, motivadas pelo cenário político do país, mas que podem lhe ser úteis
em qualquer momento, independentemente de ser período de eleição. A intenção, com esse
documento, é ajudar os cidadãos a não se deixarem seduzir pelo fenômeno da pós-verdade, algo
muito presente nas interações travadas através das mídias sociais.